Por Luís Victor da Silva Costa.

 

O foco da política externa brasileira na América do Sul esteve voltado desde os anos 1990, para a construção de um cenário de integração e estabilidade. O governo Bolsonaro rompeu com esse padrão e inaugurou uma política de ideologização das relações e alinhamento aos interesses do governo estadunidense em detrimento do próprio protagonismo e liderança do Brasil na região. Além disso, tanto o Presidente quanto seuo Chanceler incitam conflitos com vizinhos e contribuem para um clima de animosidade.

 

1 - A relação com a Venezuela é a mais complicada. Como um dos fundadores do Grupo de Lima, ainda em 2017, o Brasil já se colocava em situação de oposição ao governo de Nicolás Maduro. Com a posse de Bolsonaro em 2019, o país quase chegou a defender uma intervenção na Venezuela e não hesitou em outorgar legitimidade ao governo autodeclarado de Juan Guaidó. A partir de outubro de 2020, o conflito se intensificou após o Exército brasileiro realizar uma simulação de guerra na fronteira amazônica durante 15 dias e também receber a visita do Secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, em Boa Vista, estado de Roraima, próximo à fronteira com a Venezuela, com uma agenda secreta.

 

2 - Com a Argentina, após a eleição de Alberto Fernández, o Brasil vive o período de maior afastamento entre  seus líderes já visto nos últimos 35 anos, o qual intensificou-se ainda mais com as posições conflitantes de ambos sobre as medidas de combate à Covid-19. Enquanto o governo argentino iniciou uma campanha para adiar a votação para a presidência do BID para março de 2021 - esperando uma vitória de Biden nas eleições nos EUA e querendo lançar um candidato próprio - o Brasil se mobilizou para eleger Clever Carone, indicado por DonaldTrump e abriu mão do seu próprio candidato, favorecendo uma derrota para a diplomacia Argentina e quebrando a tradição de eleger latinos à presidência do  Banco.

 

3 - Apesar de ter mantido relação amigável com a Bolívia durante a presidência de Evo Morales, Bolsonaro apoiou o governo de Jeanine Áñez após a deposição de Evo e declarou abertamente apoio ao candidato conservador de direita Luis Fernando Camacho no último pleito no país. Com a vitória do candidato do MAS, Luis Arce, o governo brasileiro se mostrou insatisfeito, porém afirmou não ver o novo Presidente como ameaça e que priorizará uma relação pragmática.

 

4 - Como país responsável pela criação da UNASUL, o Brasil decidiu abandonar o grupo em 2018 ainda no governo Temer. Na gestão Bolsonaro aderiu ao projeto chileno de criação do PROSUL, um fórum de cooperação para o desenvolvimento na região. Já em relação à Colômbia, o país abandonou a posição de apoio à pacificação no conflito com as guerrilhas e agora compartilha da visão do presidente Iván Duque do conflito como combate ao terrorismo narcotraficante e esquerdista. Há divergências, no entanto, em relação à questão climática e o combate à Covid-19. Temas em que a Colômbia vem assumindo a liderança  enquanto o Brasil despreza e sofre críticas internacionais.

 

 

Nas palavras do chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, o Brasil se tornou um pária internacional. Araújo, no entanto, considera esse cenário algo bom, pois significa que o país está em um processo desestruturador da antiga ordem e na vanguarda de uma nova era de conservadorismo na política externa. O cenário, no entanto, é de um país em condições estratégicas abrindo mão de uma posição sólida construída ao longo de 30 anos, tornando-se cada vez mais isolado, optando por embates desnecessários e perdendo relevância.