Por Fernanda Moreira Lins. 

 

Em vias de completar um ano da posse da fórmula presidencial Alberto Fernández-Cristina Kirchner, as fraturas políticas da sociedade argentina, que desde a vitória da coalizão já eram profundas, permanecem evidentes, ao passo que Fernández tem atuado no sentido de dirimir as divergências políticas radicais no país. Quanto à economia, já no início deste ano, os índices indicavam tendências negativas e apontavam para um grande desafio do governo então recém-empossado, agora potencializado pela pandemia. É observado que a construção e efetivação de políticas no país pelo oficialismo, como as relativas às questões jurídicas, socioeconômicas e à pandemia, têm sido permeadas pelas cisões políticas, havendo reações da oposição em manifestações sociais constantes há seis meses.

 

  • A anunciada implementação de políticas pelo oficialismo têm sido acompanhada de reações da oposição em manifestações sociais, banderazos, desde junho, contando com consignas diversas, as quais refletem as cisões políticas da sociedade.
  • Desde os primeiros casos de Covid-19 identificados na Argentina, Fernández assumiu a liderança de informar à população as medidas que seriam adotadas, as quais contavam com aprovação majoritária da sociedade. Após alguns meses de quarentena estrita, a oposição teceu críticas à extensão e obrigatoriedade da quarentena e, atualmente, uma parte as direciona também para as decisões do governo relacionadas à compra da vacina russa.
  • A posição de Fernández diante da atuação da oposição e de apoiadores críticos caminha no sentido do diálogo, o que não implica a renúncia a agendas consideradas pelo governo como essenciais, mesmo que envolvam debates polarizados no país, como a reforma judicial.
  • A economia argentina encontra-se em recessão há cerca de dois anos, o que foi potencializado pela pandemia. A taxa de desemprego para o segundo trimestre deste ano foi de 13,1% e a população sob a linha de pobreza para o primeiro semestre foi de 40,9%[1].

 

Não obstante o cenário interno econômico e político-social conturbado, o governo justicialista tem se direcionado soluções evitando a confrontação direta. No âmbito regional, em princípios de sua gestão, Fernández teve desentendimentos com Presidentes do entorno, como Sebastián Piñera e Jair Bolsonaro, mas atualmente tem estendido a via conciliatória também aos governos regionais que apresentam projetos ideológicos à direita.

 

 

[1] Fonte: Instituto Nacional de Estadística y Censos de la República Argentina (INDEC).