Workshop: Reconfigurações do Tabuleiro Internacional


Auditório do IREL/IPOL 14h - 18h 13/11/2018 - 13/11/2018

 

Por Breno Rybak

 

 

O GEPSI e o CEEEX organizaram workshop conjunto para debater o processo de reconfiguração da balança de poder no meio internacional. Foram analisados processos relacionados com a China, os Estados Unidos, a União Europeia e o Brasil, entre outros temas.

 

O evento em questão contou com a participação da Magnífica Reitora Márcia Abrahão Moura e o General de Divisão Achilles Furlan Neto para abertura da sessão. Isso indica a existência e fortalecimento da comunicação entre os setores civil e militar da sociedade, muito em voga nas discussões sobre segurança no Brasil.

 

Como prova dessa preocupação, a primeira exposição do evento se deu no âmbito da divulgação, pelo Centro de Doutrina do Exército (CDoutEx), de um banco de dados militar para amplo acesso civil e acadêmico. Como foi exposto, informação só é poder quando transformada em algo palpável. Assim, se faz necessário ampliar o acesso à informação para que ela possa encontrar quem a materializará em poder.

 

Com isso em vista, foram apresentados i) a Biblioteca Digital do Exército, feito em conjunto com o MIT; ii) o Portal de Periódicos; iii) a EBEventos, para administração de conferências; iv) EBCultural, que apresenta a dimensão artística; v) o WIKIDOUT, plataforma de artigos no modelo Wiki; vi) EBusca, o buscador universal; e vii) o EBConhecer, que abarca todos os elementos anteriores. Ademais, esse arsenal será aumentado, com o próximo passo sendo adicionar o Comprehensive Knowledge Archive Network (CKAN) nos sistemas.

 

Segundo o CDoutEx, apresentar essas ferramentas, que são de acesso livre, tem a intenção de aumentar o intercâmbio dos conhecimentos entre Universidade e Exército e, lato sensu, entre sociedade civil e militares.

 

Após essa divulgação, foi composta a mesa de quatro palestrantes sobre O Tabuleiro Internacional: Implicações para o Brasil. Compuseram a mesa Prof. Dr. Alcides Vaz e Prof. Dr. Juliano Cortinhas, ambos do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília; e Prof. Dr. Peterson Silva, além de Prof. Dr. Augusto Teixeira, ambos pelo Centro de Estudos Estratégicos do Exército.

 

Augusto Teixeira foi o primeiro a expor, iniciando por ressaltar qual é a configuração atual do tabuleiro internacional. A tendência que se observa, a partir dos anos 1990, é i) a luta ao terrorismo; ii) ascensão militar da Rússia; e iii) ascensão econômica da China. Dessa forma, a importância da Eurásia é aumentada, ainda mais que anteriormente. Sendo os Estados Unidos a potência vigente, e ela se comunicar com os dois emergentes pelo Oceano Pacífico, a grande massa de água torna-se central no cenário estratégico global.

 

Outro fator interessante é a grande estratégia destes países, perceptivelmente ativos em sua projeção internacional. Enquanto a China está aumentando sua presença no Mar da China e buscando reconstruir a Rota da Seda, a Rússia dá passos de projeção militar para seu ocidente, sobretudo evidenciado pela anexação da Crimeia, em 2014. Assim, é notável que os projetos de grande estratégia de ambos se sobrepõem aos dos Estados Unidos, tanto no Sudeste Asiático, quanto na Europa, gerando solo fértil para o conflito

 

Augusto Teixeira ainda explica que, o Brasil, estando longe das áreas geoestratégicas dos três Estados, e também não sendo banhado pelo Pacífico, está insulado do conflito que se constrói. Muito embora essa disputa esteja respingando em territórios próximos aos do Brasil, como as investidas econômicas chinesas na América do Sul e a interferência russa na Crise da Venezuela. Ainda assim, estando na periferia dessa grande política, o Brasil tem o benefício da escolha de ou participar, ou não se posicionar frente ao potencial conflito.

 

É necessário pensarmos a posição para o Brasil nessa configuração global e, como último ponto a ser adicionado, o Prof. Teixeira argumenta que a Geopolítica constitui a melhor ferramenta para compreender o sistema, de forma a eludir qual seria a melhor opção para o País.

 

Em cima dessa apresentação, o Prof. Alcides Vaz levantou algumas críticas, especialmente no tocante aos conceitos utilizados. Primeiramente sobre o de grande estratégia que, ao que parece, vem sendo muito utilizado ultimamente, tornando-se quase um lugar-comum dentro da Geopolítica e análises sobre segurança. Tornando-se, assim, perigosamente vazio de sentido analítico.

 

Adiciona que esse termo é amplamente utilizado para apenas analisar atividades de grandes potências. Especialmente, em três casos: i) autoafirmação de poder (Rússia); ii) afirmação hegemônica (EUA); e iii) construção hegemônica (China). O conceito torna-se limitado, assim, para esse cenário, tornando-se de difícil alcance para países periféricos, sem grandes projetos mundiais, como o Brasil.

 

O que seria mais próprio para o País seria, antes de mais nada, pensarmos um projeto nacional, em oposição a uma grande estratégia. O Prof. Vaz argumenta que a falta de elemento ordenador é uma lacuna da instituição do Estado brasileiro contemporâneo, fazendo a coordenação de seus objetivos domésticos com os internacionais muito fraca.

 

Além de ressaltar a prevalência da Geopolítica como ferramenta de análise nessa conjuntura, ele propõe que seja utilizada para pensar como os espaços periféricos do mundo serão atingidos. Visto que sempre estivemos ao alcance de algum ator hegemônico, dessa vez, provavelmente, não seria diferente. Assim, devemos estar preparados em como agir frente aos eventos, e não apenas escolher entre agir ou não agir, mas uma terceira via: agir independentemente.

 

Prof. Peterson Silva seguiu, apresentando propostas de reformas de defesa, baseando-se em Estados-membros da OTAN. Dois dados apresentados são de importantíssima valia. O primeiro leva em consideração a dificuldade de muitos Estados-membros em atingir gastos de defesa iguais a 2% do PIB, patamar recomendado pela Organização. Isso cria atritos entre os membros mais comprometidos, como já fez Donald Trump.

 

Outro fator relevante é que, muito embora esses gastos sejam problemáticos dentro da OTAN, os dados internacionais postulam que, aqueles que mais gastam em termos militares são aqueles Estados que possuem problemas de segurança. Além dos P-5 (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido), Índia e Arábia Saudita estão entre os que mais dispendem nessa área, especialmente na busca da superioridade diante de conflitos iminentes. Sabendo que o Brasil não é um membro permanente do Conselho de Segurança, e nem possui conflitos que ameacem sua soberania, segundo as estatísticas, seria contraditório que ele aumentasse sua parcela do PIB gasto em defesa.

 

Por fim, o Prof. Juliano Cortinhas trouxe uma abordagem pós-colonial para a discussão. Em consonância com o Prof. Alcides Vaz, ressaltou a relevância e necessidade de repensarmos conceitos, mas que estes venham de nós e sirvam às nossas necessidades de análise.

 

Assim, passou a analisar o que foi dito anteriormente à sua vez sob essa ótica. Por exemplo, que a realidade de gastos em defesa no Brasil, deferentemente daqueles países com altos gastos, é quase inteiramente gasta em pessoal (em torno de 80%). E essa parcela vem aumentando, tornando difícil a manutenção de projetos para modernização de equipamentos e investimentos em novas áreas de defesa, como a cibernética. Inclusive, enquanto os exércitos do P-5 estão tornando seu meio militar cada vez mais tecnológico e reduzindo a necessidade de pessoal, o Brasil mantém um grande contingente, sem sinais de redução. A realidade nacional é, por conseguinte, diferente da dos demais, e deve ser pensada de acordo.

 

Links divulgados pelo CDoutEx:

EBConhecer: http://ebconhecer.eb.mil.br/

  1. Biblioteca Digital do Exército: http://www.bdex.eb.mil.br/jspui/
  2. Portal de Periódicos: http://ebrevistas.eb.mil.br/
  1. EBCultural: portaldacultura.eb.mil.br
  2. WIKIDOUT: http://wikidout.coter.eb.mil.br/mediawiki/index.php/P%C3%A1gina_principal
  3. EBusca: http://ebusca.eb.mil.br/vufind/

 

Workshop: Reconfigurações do Tabuleiro Internacional